Uma experiência quase perfeita, porém com preço imperdoável | Review Donkey Kong Bananza

Desde que o novo jogo do nosso macacão favorito (sim, muito à frente em preferência que Son Wukong) saiu no dia 17 de julho como um exclusivo de peso para o novato Nintendo Switch 2, eu venho tendo uma relação de amor e ódio com ele. Tem horas que ele pareceu o negócio mais criativo que joguei em anos, mas tem hora que parece que a falta de polimento técnico e alguns detalhes quebram um pouco a imersão dessa experiência

A experiência em jogar um exclusivo de peso da Nintendo é sempre muito boa, em linhas gerais. Eu realmente não consigo lembrar de qualquer experiência de fato negativa, e nisso, a japonesa anda anos-luz à frente dos principais concorrentes, Microsoft e Sony, que já entregaram jogos exclusivos medianos (ou ruins, vide Concord ou Crackdown 3) ao longo dos anos.

O time que desenvolveu Donkey Kong Bananza é o mesmo por trás de Super Mario Odyssey, exclusivo no ano de estreia do Nintendo Switch em 2017, um jogo que em quase qualquer outro ano teria ganhando o GOTY, não fosse sua competição logo contra The Legend of Zelda Breath of the Wild. Isso dito, você consegue perceber criatividade, beleza e qualidade nos primeiros segundos que você começa a jogar.

Logo de cara você é introduzido a um local fechado, uma mina, onde o DK precisa sair para continuar o seu trabalho de minerador de bananas. Aqui, já temos um pequeno vislumbre do que teremos pela frente: um cenário quase que completamente destrutível. É aqui que o jogo mais brilha.

Cada parede rachada, cada pedaço do terreno que cede, cada explosão de ouro voando pela tela passa a sensação de um mundo vivo, quase caótico, mas nunca gratuito. É o tipo de detalhe que mostra que o estúdio quis elevar Donkey Kong de mascote clássico para protagonista de um jogo que conversa com o que existe de mais moderno em design de fases.

Onde o jogo brilha?

O ritmo das primeiras horas é viciante. Você entra numa fase achando que vai só pular e dar umas porradas e, quando percebe, está resolvendo puzzles ambientais engenhosos e testando mecânicas novas a cada 10 minutos. Essa variedade evita a repetição que tantos jogos de plataforma sofrem, e dá ao Bananza uma energia própria.

Uma das maiores surpresas é a direção de arte. Cada cenário parece pintado à mão com cores saturadas na medida certa, trazendo uma vibe de parque temático tropical misturado com fantasia. A trilha sonora acompanha esse espírito e vai de batidas tribais empolgantes a melodias suaves que grudam na mente. É impossível não sorrir quando você percebe que até o barulho das bananas sendo coletadas foi retrabalhado para soar mais satisfatório. Esse cuidado com os detalhes mostra um respeito enorme pela franquia.

Outro ponto que merece destaque é a variedade de mecânicas. Donkey Kong Bananza não se apoia só na fórmula clássica de plataforma. Em poucos capítulos, você já experimenta seções de exploração, desafios de ritmo, veículos improvisados e até interações multiplayer que realmente acrescentam algo à jogabilidade. Não é só enfeite, cada novidade tem peso e muda sua forma de jogar. Essa ousadia em expandir o que é “um jogo do DK” faz com que Bananza tenha fôlego para se manter fresco do começo ao fim.

O ponto mais surpreendente do Bananza é justamente a sua companion, Pauline. No começo da aventura ela aparece aprisionada numa forma de pedra pelo Void Kong, mas quando finalmente retorna à forma humana, o jogo começa a se estruturar narrativamente. Não é apenas uma ajudante qualquer, Pauline tem personalidade forte, atitude e um poder especial que impactam tanto a narrativa quanto a jogabilidade. Sua presença traz um contraste divertido com o DK, equilibrando a selvageria do macaco com a ingenuidade e determinação de uma criança que só quer voltar pra casa.

A dinâmica entre os dois é o motor da história. Enquanto DK sonha com bananas infinitas, Pauline tem um desejo muito mais simples e humano, que é voltar pra casa. Essa diferença de objetivos dá profundidade à trama e transforma cada fase em mais do que um desafio de plataforma. É um passo a mais rumo ao núcleo do planeta para encontrar a raiz de banândio, capaz de realizar qualquer desejo. O jogo ganha alma nesse contraste, mostrando que por trás da pancadaria e do humor, existe uma aventura com coração e propósito.

Além disso, em Donkey Kong Bananza, o gorilão ganhou um dos sistemas mais criativos da franquia: as Transformações Bananza, que permitem assumir formas de outros animais com habilidades únicas, desbloqueadas ao encontrar anciãos gigantes durante a campanha.

Cada forma dura por tempo limitado e pode ser alternada no modo Bananza usando o direcional (D-Pad) para esquerda/direita, permitindo combinar poderes para resolver desafios:

TransformaçãoHabilidade principalOnde é desbloqueada
Kong BananzaVersão turbinada do DK, com socos capazes de destruir objetos muito resistentes e causar grande dano em inimigos.Camada Lagoon Layer (início do jogo)
Zebra BananzaCorre sobre a água, atravessa gelo sem escorregar e se move mais rápido.Camada Freezer Layer (meio do jogo)
Ostrich BananzaVelocidade extrema e saltos longos, ideal para atravessar grandes distâncias e áreas perigosas.Camada Forest Layer
Elephant BananzaForça bruta para empurrar obstáculos pesados e sugar/lançar água, útil em puzzles.Mais adiante na campanha
Snake BananzaEntra em espaços estreitos, escala paredes e ataca com bote rápido.Próximo ao final do jogo

Para ativar qualquer forma, é preciso acumular Bananergy (coletando ouro ou frutas especiais) e pressionar L + R simultaneamente

Onde o jogo falha

Bananza não é perfeito, e algumas falhas saltam aos olhos. Primeiro, a parte técnica: apesar de ser bonito, o jogo sofre com quedas de frame ocasionais e colisões meio estranhas que quebram a fluidez em momentos críticos. Não chega a tornar impossível jogar, mas tira um pouco da imersão que o resto da produção tenta criar com tanto capricho.

Outro ponto que incomoda é o ritmo irregular em algumas fases. Há momentos em que a criatividade e o desafio brilham, e outros em que o jogo parece enrolar com puzzles repetitivos ou trechos que não acrescentam nada à experiência. Além disso, a história, embora bem construída com a dinâmica DK-Pauline, poderia explorar mais o núcleo de banândio e os conflitos entre desejos e acaba que certas oportunidades narrativas são desperdiçadas.

Se você, assim como eu é um louco de coletar itens (neste caso, as 1.000 bananas no jogo), você pode se frustrar ao fazer isso ao invés de seguir em frente como o jogo “gostaria” que você seguisse. eu levei cerca de 50 horas para coletar todas elas, num jogo que seu modo história deve ter no máximo 15 horas, e isso acabou quebrando a minha imersão, e me fazendo ficar dias sem jogar pra dar uma desintoxicada.

E, claro, tem o elefante na sala, que é o preço no Brasil. Quase 500 reais por uma experiência que poderia ser acessível é absurdo, e esse fator pesa na percepção geral do jogo, especialmente para quem não é colecionador hardcore ou fã incondicional. É divertido e memorável, mas custa um rim e meio, e eu acho que isso não deveria ser normalizado, nem com jogos da Nintendo de alta qualidade, nem com GTA VI, nem com jogo algum.

E como ele se compara ao seu antecessor espiritual, Super Mario Odyssey?

Comparando com Super Mario Odyssey, Donkey Kong Bananza consegue segurar bem a barra em termos de criatividade e design de fases, mas cada jogo brilha de formas diferentes. Enquanto Odyssey impressiona pelo mundo aberto, liberdade de exploração e variedade quase infinita de mecânicas, Bananza foca mais em experiências concentradas de plataforma e interação com a companion Pauline, entregando uma narrativa mais emocional.

Odyssey é uma celebração de liberdade e caos divertido, já Bananza é mais sobre direção, ritmo e pequenas surpresas a cada fase, onde ambos brilham, mas cada um exige uma mentalidade diferente do jogador.

Vale a pena investir no jogo?

Donkey Kong Bananza é um dos jogos mais divertidos do ano, mas que custa como se fosse um console inteiro. Você sente o peso de cada real que você precisa pra poder jogá-o, pelo lado bom e pelo ruim também.

No geral, é uma experiência bastante satisfatória, uma nota 90 sólida, mas pelo preço, minha recomendação é que, se você não for colecionador, pegue o jogo em mídia física, jogue o quanto quiser, e recupere parte do investimento depois revendendo a fita ou trocando em outro jogo, porque o preço realmente está bem salgado.

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